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O Brasil precisa de terapia. Ou de uma Avaiana de Pau?

  • Foto do escritor: Karina Pinto
    Karina Pinto
  • há 10 minutos
  • 2 min de leitura

Vivemos uma época em que não se permite rir como ríamos antes.


Imagem: reprodução internet
Imagem: reprodução internet

Quem lembra das “avaianas de paaaaau”? Não eram confortáveis, mas ensinavam os filhos a ter boas maneiras. Quando surgiram, ainda como vídeo tosco numa internet ainda “primitiva”, não eram pedagogia, não eram manifesto. Nem meme — a palavra como conhecemos hoje — existia. Eram um exagero caricato de um país caricato.


Mostravam o quanto gostávamos de resolver tudo no impacto, no ruído. E seguíamos a vida.


Não se trata de métodos educativos ou de um sentimento nostálgico. Tudo virou guerra, polarização. Uma incapacidade coletiva de sustentar o diálogo. A polarização política não nos permite mais pensar; apenas nos posicionar. Não se interpreta — reage-se.


Saudades daquelas “avaianas de paaaaau”. A chinelada simbólica que fazia escárnio de várias situações, como “é minha culpa se o Corinthians perder”. Aquele simbolismo de que nem tudo precisa virar cruzada moral ou bandeira partidária.


Aí vêm as Havaianas (com H) e lançam um comercial em que se diz que não devemos entrar em 2026 com o pé direito. A marca, que sempre foi sinônimo de informalidade e usada por milhares de brasileiros, independentemente da classe, vira alvo de críticas e elogios.


Uma evidência de que o que antes seria lido como irônico passa a ser ofensivo, no entendimento de alguns, revelando um país incapaz de sustentar a mensagem sem transformá-la numa disputa — ainda mais no ano que vem, eleitoral. O Brasil de hoje fala alto demais e escuta de menos.


Boicote? Falta argumento contrário. “Essa marca não me representa” fala mais de quem afirma do que sobre o que é afirmado.

E, no meio dessa discussão, Fernanda Torres ainda está aqui. Plagiando o filme que protagoniza, ela permanece enquanto o país se fragmenta ainda mais, quando, ao menos eu achava, parecia estar se unificando. Não se sabe se decidimos rir, cancelar ou fingir que não é conosco.


Daí veio a lembrança daqueles chinelos, de madeira e prego — não para bater, mas para parar. Para lembrar que “calçar” bom senso é educação, civilidade e evolução.

Ela ainda está aqui. As Havaianas irão permanecer também. E o Brasil, agora, descalço, discutindo muito, entendendo pouco. Chamam de consciência a perda de um filtro. Uma vigilância ou militância que se confunde com virtude, barulho com argumento (quais?).


O bom senso foi expulso do debate. Sem apanhar das “avaianas de paaaaau”.


Por Ede Leite

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