Trump, Big Techs e tarifas: Bolsonaro como pretexto em um jogo geopolítico maior
- Karina Pinto
- 21 de jul.
- 2 min de leitura
Ao usar Jair Bolsonaro como pano de fundo, Donald Trump busca proteger interesses estratégicos dos EUA e pressionar o Brasil — enquanto a família Bolsonaro finge ter um valor geopolítico que não tem.

A imposição da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada por Donald Trump, acendeu alertas sobre as intenções por trás dessa medida. À primeira vista, parece um aceno ao seu eleitorado nacionalista americano. Mas, em uma análise mais ampla, fica claro que Bolsonaro não passa de peça instrumental num jogo maior: o de proteger os interesses das grandes plataformas digitais e intimidar o avanço da regulação de conteúdo online no Brasil.
A retórica de Trump sugere solidariedade a Bolsonaro, frequentemente apresentado como um suposto “aliado natural” na cruzada contra o globalismo e a esquerda. Mas a realidade é outra. O ex-presidente brasileiro serve, neste contexto, apenas como pretexto conveniente. O alvo real são as ações do Supremo Tribunal Federal, especialmente na figura do ministro Alexandre de Moraes, que têm colocado o Brasil na vanguarda do debate sobre a responsabilização das Big Techs por desinformação e discurso de ódio.
Esse movimento incomoda — e muito — os gigantes da tecnologia sediados nos EUA. O STF defende que empresas como Meta, X (ex-Twitter) e Google não podem se esconder sob o manto da liberdade de expressão para permitir ataques à democracia, entre outros abusos cometidos nas redes sociais. Esse Brasil se tornou exemplo incômodo para outros países que pensam em seguir o mesmo caminho. A resposta de Trump, um aliado informal dessas corporações quando os interesses se alinham, vem na forma de intimidação econômica e diplomática.
Enquanto isso, a família Bolsonaro tenta capitalizar a situação como se fosse protagonista. Vendem a narrativa de que são relevantes para os Estados Unidos — quando, na prática, são descartáveis no tabuleiro geopolítico americano. Os filhos de Bolsonaro, aliados à extrema-direita global, agem como se tivessem poder de barganha. Mas a realidade é que estão sendo usados como isca, como vitrine de um discurso que interessa muito mais a Trump do que ao Brasil.
A ironia está no fato de que, ao se colocar como vítima e buscar apoio junto à ultradireita americana, Bolsonaro reforça a ideia de que não confia nas instituições brasileiras, mas quer se beneficiar politicamente dessa relação assimétrica. Age como peça de um jogo que não controla — e, pior, acredita ser o jogador principal.
Essa combinação de pressões externas, interesses econômicos e manipulação política interna é perigosa. Trump sinaliza ao mundo que está disposto a usar sanções e retórica beligerante não apenas contra inimigos declarados, mas também contra democracias que ousam regular o poder corporativo. E Bolsonaro, ao se submeter a esse papel, mostra que está disposto a ser o fantoche desde que isso lhe renda proteção, visibilidade ou, quem sabe, anistia.
No fim das contas, o que está em jogo é mais do que o destino de um ex-presidente brasileiro. É o futuro da soberania digital, da democracia global e do papel dos países em desenvolvimento na construção de uma ordem internacional mais equilibrada. E, nesse cenário, o Brasil precisa deixar claro que não se curva a chantagens, nem se rende a figuras que só enxergam o mundo como palco para seus próprios delírios de grandeza.
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