Quando o Legislativo vira as costas para o povo
- Karina Pinto
- 9 de out.
- 2 min de leitura

Nos últimos dias, o governo tentou aprovar medidas que pareciam ter o apoio da maioria dos brasileiros: taxar as apostas esportivas online — as famosas bets — e cobrar mais impostos dos super ricos. Em um país onde a classe média e os trabalhadores arcam com a maior parte da carga tributária, seria uma sinalização de justiça e equilíbrio.
Mas o resultado foi outro: a Câmara não deu maioria, e a medida provisória simplesmente saiu de pauta. O movimento acontece logo depois de outra derrota simbólica dos parlamentares: a reação massiva da população contra a chamada “PEC da Blindagem”, vista como uma tentativa de aumentar a imunidade de políticos e dificultar investigações.
Nas ruas e nas redes, o recado foi claro — o povo não engoliu mais um projeto de autoproteção. E é aqui que o jogo político mostra suas regras não escritas.
A retirada da MP das bets e dos super ricos soa, mais do que uma decisão técnica, como uma resposta política. Uma forma de o Congresso reafirmar poder, mostrar que, mesmo pressionado pela opinião pública, ainda dita o ritmo e escolhe quais interesses valem mais
Não é exagero dizer que, enquanto a população reagia à PEC da impunidade, o Congresso reagia ao povo — travando uma pauta de justiça fiscal que atingiria diretamente setores bilionários e altamente influentes. Não se trata exatamente de vingança, mas de uma demonstração de força: “vocês podem gritar lá fora, mas quem decide aqui dentro somos nós.”
No fim, a conta é a de sempre. As bets continuam lucrando bilhões, os super ricos seguem com seus mecanismos de isenção, e quem paga mais uma vez é o cidadão comum — o mesmo que foi às ruas defender a democracia e a transparência.
A lição é clara: enquanto o poder continuar se protegendo, o Brasil continuará sendo o país onde os ricos ganham tempo, e o povo, boletos.



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