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O Brasil real virou refém do Brazil imaginário do Congresso

  • Foto do escritor: Karina Pinto
    Karina Pinto
  • 14 de out.
  • 2 min de leitura
Imagem: DESENHO LIVRE - BRASILIA - por Evelyn Lacerda
Imagem: DESENHO LIVRE - BRASILIA - por Evelyn Lacerda

A Comissão Mista de Orçamento decidiu aumentar o Fundo Eleitoral para R$ 4,9 bilhões em 2026. O dinheiro virá, em parte, das emendas estaduais, instrumento que vem sendo tratado como moeda de troca política para manter influência em redutos eleitorais. É a mais recente demonstração de como o Brasil tem aperfeiçoado a arte de usar o orçamento público para financiar a própria classe política — e não a sociedade.


A ironia é que o mesmo Congresso que costuma cobrar “responsabilidade fiscal” do Executivo não hesita em inflar recursos destinados a custear campanhas. Dinheiro público que, no papel, serve para fortalecer a democracia, mas que, na prática, alimenta um sistema de sobrevivência partidária baseado em privilégios e marketing.


Para entender o que está em jogo, basta converter as cifras em algo palpável. Com os R$ 4,9 bilhões destinados ao fundo, o país poderia construir cerca de 35 mil moradias populares, considerando o custo médio de R$ 140 mil por unidade, referência usada em programas habitacionais federais. Num cenário otimista — com moradias mais simples, de R$ 70 mil — seriam 70 mil casas.


No pior caso, com custo de R$ 200 mil, a troca ainda seria bem mais interessante para o país, com 25 mil famílias beneficiadas com um teto para viver com dignidade. Mas, em vez de financiar moradia, o Brasil financia santinhos digitais, marketing e cabos eleitorais.


O argumento de que o fundo é essencial para garantir igualdade de condições entre candidatos é legítimo, mas perde força quando o mecanismo se transforma em cofre bilionário administrado por quem disputa o próprio voto. É o contribuinte pagando para ser convencido a votar. Sem falar, que na hora de cortar o bolo, os maiores partidos acabam ficando com as maiores fatias, o que na prática não garante igualdade alguma.


O uso das emendas estaduais para engordar o fundo só agrava o cenário que já é negativo e tem sido alvo de críticas severas nas redes sociais, e nas ruas. Emendas, em tese, deveriam financiar projetos de interesse local — escolas, postos de saúde, infraestrutura. Ao redirecioná-las para custear campanhas, o Congresso subverte sua função. O dinheiro que deveria irrigar o país real — o das periferias, das áreas rurais, das famílias sem casa — será canalizado para o país político, o das estratégias de poder e dos diretórios partidários.

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