O Brasil espera enquanto a Câmara vive na monarquia dos Bolsonaro
- Karina Pinto
- há 6 dias
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Enquanto o governo tenta recolocar o país nos trilhos, enfrentando crises externas, vencendo batalhas comerciais e tentando destravar políticas públicas essenciais, uma parte decisiva da máquina democrática brasileira simplesmente não funciona. A Câmara dos Deputados parece ter parado no tempo — e, pior, parado para servir a uma família específica, como se vivêssemos sob uma monarquia informal onde os Bolsonaro ainda ditam a pauta, mesmo sem respaldo institucional ou eleitoral.
Desde a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, passando pela fuga de Alexandre Ramagem para os Estados Unidos e a atuação incessante de Eduardo Bolsonaro para pressionar o Parlamento, o Legislativo federal se dedica a operar segundo a lógica de um único projeto político: salvar Bolsonaro e seus aliados, mesmo que isso signifique deixar o Brasil em espera permanente.
A discussão sobre a anistia irrestrita — uma pauta construída sob medida para atender condenados pela tentativa de golpe — tomou tamanho espaço que engoliu praticamente tudo ao redor. Segurança de crianças? Em espera. Políticas de proteção às mulheres? Atrasadas. Saúde, educação, emprego, combate à fome? Ficam para depois. O que importa, hoje, é debater se haverá perdão para quem tentou romper o Estado democrático de Direito.
É um Parlamento que age como se Bolsonaro ainda fosse presidente. Que atende seus interesses, responde aos seus gestos, e opera — sem disfarces — como linha auxiliar do bolsonarismo, não do Brasil. A Câmara discute tarjas, prazos e redações do projeto de anistia enquanto políticas urgentes ficam empilhadas como papel antigo na mesa de um cartório abandonado.
Mas e o Brasil, como fica?
No país real, há mães que enterram filhos vítimas de violência, há escolas sem estrutura, há hospital sem médico, há cidades que não conseguem investir porque o Orçamento permanece sequestrado por guerras políticas. No país real, empresários aguardam estabilidade para poder contratar, agricultores pedem previsibilidade para exportar, municípios pobres esperam entrar no radar das emendas e vislumbrar uma luz no fim do túnel.
No país real, o governo federal trava batalhas complexas contra tarifas impostas pelos Estados Unidos e tenta evitar que setores inteiros da economia brasileira sejam sufocados. Consegue vitórias importantes, articula diplomacia, negocia com parceiros internacionais, garante acordos comerciais que protegem a indústria e a produção agrícola.
Mas nada disso parece comover o Parlamento brasileiro, especialmente sua ala que se comporta como corte real do bolsonarismo. Para eles, o trabalho legislativo só anda se tiver como finalidade aliviar, perdoar e blindar a família que tenta, a qualquer custo, permanecer como protagonista da política nacional — mesmo que isso custe o desenvolvimento do país.
É uma distorção institucional perigosa. A Câmara dos Deputados não deveria ser instrumento de salvação pessoal de ninguém. É um poder autônomo, eleito para legislar em nome de 220 milhões de brasileiros — e não para atender o chamado de uma família que insiste em agir como se fosse intocável.
O Brasil precisa voltar a ser o centro da agenda política. A democracia precisa saber que não trabalha de joelhos. As urgências nacionais exigem seriedade, trabalho e compromisso, não fidelidades dinásticas.
Parlamentares foram eleitos para defender o interesse público. E o interesse público, hoje, é exatamente o que está sendo deixado de lado.
Enquanto a Câmara vive em um mundo de faz de conta, onde Bolsonaro é rei e seus aliados formam uma corte privilegiada, o país real segue esperando — e pagando a conta dessa paralisia.



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