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Homem mata duas servidoras federais por não aceitar ser chefiado por mulheres

  • Foto do escritor: Karina Pinto
    Karina Pinto
  • há 5 minutos
  • 3 min de leitura
Imagem: Layse Costa Pinheiro e Allane de Souza Pedrotti Matos - Foto: Reprodução Redes sociais
Imagem: Layse Costa Pinheiro e Allane de Souza Pedrotti Matos - Foto: Reprodução Redes sociais

Movimento redpill: ódio contra mulheres não é opinião


A tragédia ocorrida no CEFET-RJ — quando um funcionário matou duas colegas de trabalho porque “não aceitava ser chefiado por mulheres” — expõe mais do que a falha de segurança de uma instituição pública. Expõe, com brutal clareza, a escalada da misoginia no país. E expõe, também, o desconfortável silêncio de parte da grande imprensa diante de crimes que têm motivação evidente: feminicídio.


A jornalista Cristina Fibe, uma das principais vozes no combate à violência de gênero no Brasil, chamou atenção para dois elementos fundamentais deste caso:


1. A forma como a notícia foi dada — novamente na voz passiva, como se as mulheres simplesmente “tivessem morrido”, e não tivessem sido assassinadas por um homem movido por ódio de gênero.

2. A falta de interesse das redações do Rio de Janeiro, que relegaram o duplo feminicídio a pequenos espaços, notas laterais, como se se tratasse de mais uma ocorrência banal em um país onde mulheres são mortas quando ousam ocupar espaços de liderança.


“Mulheres foram mortas”, repetem manchetes que invisibilizam o agressor. O sujeito da frase — e do crime — desaparece. O resultado é uma cobertura que suaviza o que houve: um homem matou duas mulheres porque não admitia a autoridade feminina.


Essa escolha editorial não é neutra. Ela reforça a naturalização da violência e o esvaziamento político do feminicídio, justamente num momento em que o Brasil vive a maior onda de misoginia digital de sua história.


Colegas relataram à polícia que o assassino demonstrava, repetidamente, indignação por ser subordinado a mulheres. Foi afastado por esse motivo. Ainda assim, retornou armado a uma instituição pública e executou duas servidoras.


É impossível olhar para esse crime sem reconhecer que ele não é um caso isolado: é um espelho perturbador de um país em que homens armados pelo ódio encontram eco em discursos que legitimam a violência contra mulheres.


Enquanto isso, páginas e mais páginas de conteúdo nas redes sociais seguem alimentando a ideia de que mulheres são “vulgares”, “supérfluas”, “desnecessárias”. Perfis de homens que fazem da misoginia um produto digital acumulam milhares de seguidores, monetizam preconceito e formam um ecossistema de influência tóxica sobre jovens e adultos.

É o universo **redpill**, um território de incubação de ressentimento, desinformação e violência.


A prova mais recente de que essa engrenagem está longe de ser inofensiva veio neste sábado, 29 de novembro, com a notícia da prisão de Thiago Schutz, conhecido como “calvo do Campari”, uma das figuras mais proeminentes do movimento redpill no Brasil. Ele foi detido no interior de São Paulo, acusado de agressão contra a namorada — justamente enquanto lucrava com conteúdo que ensina homens a “dominar” mulheres e tratá-las como objetos descartáveis.


A coincidência temporal entre o duplo feminicídio no CEFET e a prisão de um dos principais influenciadores do ódio contemporâneo contra mulheres não é apenas simbólica: é um retrato de um país adoecido pela misoginia, onde homens violentos encontram inspiração e validação para suas ações.


A violência que matou Allane de Souza Pedrotti Matos e Layse Costa Pinheiro não caiu do céu. Ela nasce em grupos de WhatsApp, em podcasts masculinos, em vídeos virais que ensinam que mulheres são inimigas, obstáculos, ameaças. Ela é alimentada por influenciadores que se vendem como “mentores”, mas que, na prática, são propagadores de uma ideologia que reduz mulheres à condição de alvos.


E quando a imprensa escolhe a voz passiva, quando encolhe a tragédia a notas de rodapé, quando evita chamar por seu nome — feminicídio —, ela contribui para o mesmo ciclo que pretende denunciar.


O Brasil não pode se acostumar com o silêncio, com a omissão e com o ódio travestido de opinião. Porque enquanto isso continuar acontecendo, homens continuarão matando — e mulheres continuarão morrendo.

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