Entre a Democracia e o abismo: o Brasil em 2025
- Karina Pinto
- há 2 dias
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Nos últimos dias, o Brasil foi sacudido por uma série de acontecimentos que, mais do que alarmantes, escancaram o estado de tensão e desagregação em que vivemos. A cada nova manchete, a impressão é a de que o país avança perigosamente rumo ao abismo — político, institucional e moral.
Comecemos com a cena simbólica de uma ministra de Estado sendo interrompida e destratada em plena audiência no Senado. Ao ouvir de um senador a frase "ponha-se no seu lugar", Marina Silva — mulher, negra, amazônida e ambientalista — não apenas foi agredida verbalmente, mas também confrontada com o machismo e o autoritarismo ainda entranhados na cultura política brasileira. A frase carrega em si séculos de opressão. E quando ecoa dentro do Parlamento, deixa claro que as instituições estão sendo corroídas também por dentro.
Poucos dias antes, a Polícia Federal revelou a existência de um grupo de extermínio formado por militares da reserva e civis. Espionagem, uso de drones, planos para assassinar ministros, parlamentares e até jornalistas. Tudo com planilha de preços. Uma distopia que, infelizmente, é real. O nome da operação? Comando C4. Um nome de guerra para uma organização que atuava como uma milícia política paralela.
Enquanto isso, do lado de fora do país, parlamentares eleitos para defender os interesses do Brasil atuam para prejudicá-lo. Eduardo Bolsonaro tem promovido ações para que sanções internacionais sejam impostas contra o próprio país e contra autoridades brasileiras — postura que rompe com qualquer noção de soberania e responsabilidade pública. Que espécie de representante age contra a nação que deveria proteger?
Também vimos o deputado Nikolas Ferreira defender que estudantes estrangeiros críticos aos EUA tenham seus vistos cancelados, ignorando que milhares de brasileiros dependem dessas bolsas para estudar e voltar com conhecimento para contribuir com o país. O recado implícito é claro: ou você se cala, ou perde o direito à educação. Uma ameaça velada à liberdade de pensamento.
O que estamos vendo não é mais apenas polarização. É a institucionalização da intimidação, da desinformação e do ódio como métodos políticos. Trata-se de uma política de confronto permanente, em que o adversário é tratado como inimigo, e o debate público vira campo de batalha. A democracia vira alvo, e os pilares da República tremem.
Mas o que fazer diante desse cenário?
A resposta não é simples, mas começa com o resgate do senso de responsabilidade coletiva. É hora de reconstruir o pacto democrático. De exigir que as instituições funcionem com firmeza, mas também com legitimidade. De responsabilizar quem ultrapassa os limites do jogo democrático — seja com palavras, ações ou omissões. E, acima de tudo, de apoiar quem ainda acredita que política é o lugar do diálogo, não da destruição.
A democracia brasileira está sendo testada — mais uma vez. Que não reste dúvida: permanecer em silêncio diante de tudo isso é ser cúmplice. O tempo de neutralidade acabou. E talvez o que esteja em jogo, mais do que nunca, seja a própria ideia de Brasil.
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