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Ela era jornalista, e foi silenciada

  • Foto do escritor: Karina Pinto
    Karina Pinto
  • 7 de abr.
  • 2 min de leitura

Vanessa Ricarte - Jornalista (Foto: Redes Sociais)
Vanessa Ricarte - Jornalista (Foto: Redes Sociais)

Neste 7 de abril, Dia do Jornalista, não há como comemorar. O luto e a indignação pesam sobre a data, marcada pela memória recente do assassinato brutal da jornalista Vanessa Ricarte, morta a facadas pelo ex-noivo em Campo Grando (MS) no último dia 13, mesmo após procurar ajuda. Mesmo depois de denunciar. Mesmo depois de ser ouvida por quem deveria protegê-la.


Vanessa não foi apenas mais uma mulher vítima da violência de gênero. Ela era uma profissional da comunicação, alguém que dava voz a tantos — e que, ironicamente, não teve sua própria voz ouvida quando mais precisou. Procurou a Delegacia da Mulher após dias de cárcere privado, relatou as ameaças, clamou por segurança. Horas depois, foi executada.


O assassinato da jornalista escancara uma ferida aberta que o Brasil teima em ignorar: a fragilidade do sistema de proteção às mulheres. A Lei do Feminicídio, criada há dez anos, é um avanço simbólico, mas ainda pouco efetiva na prática. Diariamente, mulheres são mortas no país por ex-maridos, ex-namorados, pais, irmãos — homens que não aceitam a liberdade feminina e agem com a certeza da impunidade.


As medidas protetivas, quando concedidas, muitas vezes são ignoradas. A fiscalização é falha, os mecanismos de urgência são burocráticos e, pior, há despreparo e desrespeito por parte de muitos agentes públicos que deveriam acolher. Vanessa relatou em áudio a frieza do atendimento que recebeu. Um protocolo vazio que falha em um ponto fundamental: a empatia.


Como acreditar no Estado quando ele não escuta? Como confiar na Justiça quando tantas mulheres morrem mesmo depois de pedir socorro? O caso também expôs o corporativismo que silencia a crítica. Após a repercussão da morte de Vanessa, delegadas da DEAM pediram transferência em massa, alegando sensacionalismo por parte da imprensa e injustiça. Mas e a injustiça com Vanessa? Quem pediu exoneração por ela?


Neste Dia do Jornalista, o país deveria estar celebrando a coragem de profissionais como Vanessa, que, mesmo em um país hostil à imprensa, ousam informar, investigar, denunciar. Mas o que temos é mais um nome na estatística do feminicídio. Mais uma mulher que não foi ouvida. Mais uma prova de que o jornalismo é urgente — e de que a vida das mulheres segue valendo pouco no Brasil.


Que esse caso não caia no esquecimento. Que o nome de Vanessa não seja apagado como tantos outros. E que o jornalismo, hoje e sempre, siga gritando o que muitos tentam calar: não é um caso isolado. É um projeto de violência sustentado pela omissão.


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