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A brutalidade contra meninas e mulheres e o machismo que mata

  • Foto do escritor: Karina Pinto
    Karina Pinto
  • há 3 dias
  • 2 min de leitura
Imagem de Freepik
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O Brasil foi abalado, em poucos dias, por duas mortes que escancaram o quanto a vida de mulheres e meninas ainda é tratada como descartável. Em Belém do São Francisco (PE), uma menina de apenas 10 anos morreu após ser brutalmente espancada dentro da escola, supostamente por não ceder às investidas de um garoto. 


No Tocantins, Harenaki Javaé, indígena de 18 anos, grávida e com deficiência intelectual, foi encontrada parcialmente carbonizada após um festejo na Aldeia Canuanã, em Formoso do Araguaia. Dois crimes distintos, mas que revelam um mesmo padrão: a violência letal como resposta à autonomia feminina.


Em ambos os casos, a recusa das vítimas em ocupar o papel submisso esperado delas foi enfrentada com violência extrema. Alícia Valentina, ainda criança, teria dito não a um garoto e pagou com a vida. Harenaki, duplamente vulnerável — por ser indígena e ter deficiência —, foi morta de forma cruel, em um crime que lideranças indígenas já classificam como feminicídio bárbaro.


O denominador comum é o machismo estrutural, que se manifesta desde cedo, moldando a forma como meninos e homens se relacionam com as mulheres. A lógica é conhecida: quando uma mulher ou menina diz “não”, a resposta é agressão, punição ou morte. Trata-se de uma cultura que normaliza o controle masculino sobre o corpo e as escolhas femininas, e que faz do Brasil um dos países com maiores índices de feminicídio do mundo.


Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em 2024, mais de 1.400 mulheres foram assassinadas por razões de gênero. São números que refletem não apenas violência doméstica, mas também o ódio disseminado contra aquelas que ousam afirmar sua autonomia. A tragédia em Pernambuco revela que até mesmo os jovens reproduzem essa lógica de posse e agressividade, o que deveria acender um alerta urgente sobre a falência de nossa educação para a igualdade de gênero.


No caso de Harenaki, somam-se camadas de preconceito: o racismo contra povos indígenas, a invisibilidade das mulheres periféricas, a negligência histórica com pessoas com deficiência. Cada marca de vulnerabilidade funcionou como um agravante no caminho para a violência.


Essas duas histórias expõem o Brasil real: um país onde a misoginia não faz distinção entre escola e aldeia, entre a cidade e o campo. Um país onde meninas e mulheres seguem morrendo porque ousam existir fora do lugar que o patriarcado lhes reserva.


Enquanto não houver investimento sério em educação para a igualdade, responsabilização exemplar dos agressores e políticas públicas que protejam mulheres em todas as suas diversidades, tragédias como as de Alícia e Harenaki continuarão a se repetir. E cada repetição será um lembrete brutal de que o machismo, no Brasil, ainda é uma sentença de morte.


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