Mais de 40 milhões de brasileiros preferiram não votar em 2024

No primeiro turno das eleições municipais de 2024, 33,5 milhões de brasileiros não votaram, o que corresponde a 21,71% dos eleitores aptos. No segundo turno, quase 10 milhões optaram pela abstenção, somando 29,26% dos eleitores nas 51 cidades onde houve a segunda votação.
A princípio, o alto índice de abstenção pode parecer irrelevante, mas, para especialistas, é uma questão que precisa ser analisada. Ao não comparecer às urnas, o eleitor envia uma mensagem importante, que precisa ser compreendida pela Justiça Eleitoral, organizadora das eleições, e pelos poderes Executivo e Legislativo, que dependem desses votos para legitimar suas eleições.
“Eu entendo que o desinteresse parte, principalmente por você não ter candidaturas que sejam atrativas pra pessoa ter vontade de sair de casa e voltar. A gente percebe um desinteresse na política como um todo. Depois de uma grande polarização que a gente teve, desde 2018, você percebe que muitas pessoas se identificam com um dos lados, ou esquerda ou direita. Isso acaba se colocando de forma muito enfática, como se fosse um time de futebol, e esquece-se de discutir o futuro da cidade, o futuro do estado, o futuro do país.”, destaca Elias Tavares, cientista político.
Elias explica que o desinteresse sobre o tema é latente, e deve aumentar gradativamente caso nada seja feito para reverter essa situação. “O Brasil precisa urgentemente discutir a questão política nas escolas como matéria, aprofundar um pouco mais essa discussão que de fato a política é uma ferramenta fantástica para fazer uma transformação na vida da sociedade, na vida das pessoas, para melhorar a nossa nossa saúde, nossa educação.”, disse.
Dados divulgados pelo TSE mostram que o estado de Goiás registrou a maior abstenção, com 34,43% dos eleitores ausentes, enquanto o Ceará apresentou o menor índice, com 16,28%. Em São Paulo, 31,54% dos eleitores não votaram neste domingo (27), representando 2.940.360 votos a menos, número suficiente para eleger um prefeito na maior cidade da América Latina.
Em Altamira, no Pará, maior município do país, 85.317 eleitores estavam aptos a votar. Destes, 65.095 compareceram, enquanto 20.222 (23,70%) não votaram. Esses dados mostram que o fenômeno da abstenção vai além dos grandes centros urbanos. Fatores como a dificuldade de acesso aos locais de votação, o descontentamento com a política, e até mesmo a falta de conhecimento sobre a importância do voto, podem explicar a ausência dos brasileiros nas urnas.
Psicóloga clínica, Beatriz Brandão ressalta que a forma como o assunto se popularizou é tão negativa, que afasta os brasileiros. Para ela, quase sempre o assunto surge em forma de queixa, corrupção, promessas não cumpridas, tudo o que ninguém quer por perto. “No Brasil, o desinteresse pela política é quase que um traço cultural. Desde cedo crescemos num ambiente onde a política é vista como assunto chato, complicado, que parece sempre rodeado de polêmicas. Nas escolas, pouco se fala sobre o funcionamento do governo, as leis ou papel dos nossos representantes, o que só alimenta a sensação de que entender política é algo distante, feito só para especialistas.”
Com tanta ausência, o Tribunal Superior Eleitoral anunciou que realizará uma pesquisa para identificar os fatores que influenciaram o eleitorado a não comparecer. Cármen Lúcia, presidente do TSE, destacou que cada região do Brasil possui características próprias e que essas especificidades precisam ser estudadas para compreender melhor o cenário.
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