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Indígenas Kayapó denunciam suspensão de programas em 30 aldeias do Xingu após privatização da Eletrobrás

Karina Pinto
Imagem: Indígenas Kayapó em Altamira - Foto: Naldo Nascimento

Carregando bordunas, arco e flechas, 70 indígenas da etnia Kayapó chegaram a Altamira, no sudoeste do Pará, na manhã de segunda-feira (25). Eles buscam diálogo com representantes da Norte Energia e Eletrobrás para exigir a retomada de programas mantidos como compensação pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.


Representando 30 aldeias entre São Félix do Xingu e Altamira, as lideranças pressionam a Funai por respostas diante da demora nas negociações. Enquanto isso, ocupam o prédio da Norte Energia em Altamira e bloqueiam a avenida que dá acesso ao aeroporto da cidade, além de vias que conectam quatro bairros.


Na terça-feira (26), uma reunião mediada pelo Ministério Público Federal (MPF) e realizada na sede da Funai contou com representantes da Eletrobrás e Norte Energia para discutir as reivindicações dos Kayapó. No entanto, as lideranças indígenas consideraram as respostas insatisfatórias.


“A gente quer saber porque eles descumpriram o acordo, porque abandonaram os projetos nas aldeias.

A empresa Norte Energia não quer acordo, não quer falar com os indígenas. Então, nós decidimos que vamos ficar aqui até eles decidirem. O prédio agora é nosso, vamos ocupar até resolverem, e o protesto não vai parar”, afirmou Doto Tarak Ire, presidente da Associação Kabu, que representa parte das aldeias Kayapó no Xingu.


Os indígenas, organizados por associações como o Instituto Kabu e a Associação Floresta Protegida, denunciam o atraso de mais de um ano na renovação das Condicionantes Indígenas (CIs). Essas condicionantes obrigam a Eletrobrás e a Norte Energia a financiarem projetos em terras indígenas como compensação pelos impactos de Belo Monte.


Segundo os Kayapó, as CIs financiavam iniciativas como a coleta de castanha e cumaru, além do monitoramento territorial, que inclui bases de vigilância contra invasões de garimpeiros, madeireiros, pescadores e caçadores ilegais. As lideranças afirmam que um plano de trabalho foi aprovado pelas comunidades ainda em 2023, mas a renovação do termo de cooperação, prevista para o final daquele ano, não aconteceu.


A inclusão dos Kayapó como povos afetados por Belo Monte foi embasada por estudos de impacto ambiental (EIA-RIMA) e análises da Funai, que destacaram a necessidade de apoio para proteger rios e florestas em regiões vulneráveis ao desmatamento e atividades ilícitas.


Enquanto as empresas não se posicionam oficialmente sobre as denúncias, guerreiros, mulheres e crianças indígenas mantêm a ocupação do prédio da Norte Energia. Apesar do bloqueio, os indígenas liberam a passagem de veículos em horários específicos para minimizar os transtornos à população local.

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