Imigrantes indocumentados: contribuintes invisíveis que fortalecem a economia americana
Mesmo diante de políticas restritivas e de exclusão social, a contribuição fiscal desses trabalhadores sustenta uma parcela da economia dos Estados Unidos.

Enquanto os debates sobre imigração continuam a polarizar os Estados Unidos, a narrativa em torno dos imigrantes indocumentados muitas vezes ignora um ponto crucial: esses indivíduos desempenham um papel essencial na manutenção de serviços públicos e no fortalecimento da economia nacional, mesmo enfrentando restrições legais e desafios sociais.
Uma Contribuição Fiscal Significativa
Dados do Instituto de Tributação e Política Econômica mostram que, em 2022, a população de imigrantes indocumentados pagou aproximadamente US$ 97 bilhões em impostos, incluindo mais de US$ 54 bilhões ao governo federal e cerca de US$ 37 bilhões por estados e localidades.
De acordo com o Dr. Vinicius Bicalho, advogado licenciado nos Estados Unidos, Brasil e Portugal, e sócio fundador da Bicalho Consultoria Legal, “Essa arrecadação não se limita a impostos federais, mas também inclui impostos sobre vendas, propriedade e consumo. É importante destacar que, mesmo sem acesso a benefícios como Previdência Social, Seguro Desemprego e Medicare, esses trabalhadores continuam a financiar esses programas”, explica.
“Os imigrantes não são apenas membros ativos da força de trabalho, mas também pilares de sustentação econômica em diversas comunidades. Eles financiam serviços essenciais que impactam diretamente a qualidade de vida de todos os americanos", acrescenta Dr. Vinicius Bicalho.
No âmbito estadual, grande parte da receita arrecadada (US$ 15,1 bilhões) provém de impostos sobre vendas e consumo, seguidos por impostos sobre propriedade (US$ 10,4 bilhões) e sobre renda pessoal e empresarial (US$ 7 bilhões).
“A ideia de que os imigrantes indocumentados não contribuem é um mito. Eles sustentam desde escolas e hospitais até reparos em estradas e pontes. Sua participação vai além do que se imagina”, destaca Dr. Vinicius Bicalho.
Impactos da Deportação em Massa
Propostas de deportação em massa, como as que estão sendo planejadas pelo governo do presidente eleito Donald Trump, logo após sua posse no próximo dia 20 de janeiro, não apenas acarretaria grandes dificuldades para famílias e comunidades, mas também podem implicar em uma perda significativa para a economia dos Estados Unidos.
“Estima-se que os Estados Unidos perderiam US$ 8,9 bilhões em arrecadação tributária para cada 1 milhão de imigrantes indocumentados deportados, o que certamente impactaria serviços essenciais como educação, saúde e infraestrutura”, explica Dr. Vinicius.
Além disso, setores inteiros da economia, como construção civil e indústria alimentícia, enfrentariam colapsos devido à ausência desses trabalhadores. Dados mostram que cerca de 20% da força de trabalho na construção civil e 1,6 milhão de trabalhadores na indústria alimentícia são compostos por imigrantes, em sua maioria indocumentados.
Outro dado surpreendente revelado pela análise do Instituto de Tributação e Política Econômica é que os imigrantes indocumentados pagam, em média, uma taxa efetiva de impostos estaduais e locais de 8,9% da sua renda, enquanto o 1% mais rico do país paga apenas 7,2%. Isso demonstra que, proporcionalmente, esses trabalhadores contribuem mais com seus rendimentos do que muitos dos cidadãos mais privilegiados.
Caminhos para Soluções de Longo Prazo
“O debate sobre imigração precisa ir além da retórica punitiva e considerar soluções que respeitem a dignidade humana e os benefícios econômicos que esses trabalhadores trazem para o país”, conclui Dr. Vinicius Bicalho. Ao invés de políticas de exclusão, ele defende a criação de iniciativas que promovam a integração social e uma visão mais ampla sobre os impactos positivos dos imigrantes na economia e na sociedade.
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