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Franceses vão às ruas pedir condenação de homem que dopou e violentou esposa por anos

Karina Pinto

Durante julgamento, Dominique Pelicot admitiu ter recrutado homens na internet para abusar de sua esposa



Gisèle Pelicot deixa tribunal de Avignon, onde marido é julgado por dopá-la para estupros — Foto: Christophe SIMON / AFP

Entre 2011 e 2020, a francesa Gisèle Pelicot foi vítima de uma série de abusos sexuais orquestrados por seu próprio marido, que recrutava dezenas de homens pela internet para violentá-la enquanto ela estava dopada, sem ter conhecimento dos atos. O caso chocante veio à tona após a prisão do agora ex marido, Dominique Pelicot, que enfrenta julgamento na França, iniciado no dia 3 de setembro, com previsão de conclusão até o dia 20 de dezembro deste ano.


Segundo as investigações, o marido de Gisèle organizava os abusos por meio de fóruns online, onde recrutava homens para cometer os crimes. A vítima era sedada antes dos ataques, o que a deixava inconsciente e impossibilitada de perceber ou consentir os atos violentos. Além de facilitar os estupros em série, o agressor registrava todos os abusos em vídeo, sem o consentimento de Gisèle. As gravações foram utilizadas como prova no processo judicial.


Ao longo dos anos, Gisèle começou a apresentar problemas de saúde, incluindo complicações ginecológicas e lapsos de memória, causados pelos constantes abusos. No entanto, em vez de admitir os atos ou buscar ajuda para a esposa, o marido manipulou a situação ao insinuar que ela poderia estar desenvolvendo Alzheimer, em uma tentativa de mascarar os sinais de abuso. Esse comportamento é um exemplo claro de “gaslighting”, uma forma de abuso psicológico em que a vítima é levada a duvidar de sua própria sanidade.


O caso levanta questões graves sobre violência sexual, crimes cibernéticos e abuso psicológico, uma vez que o marido não apenas cometeu estupros conjugais, mas também organizou uma rede criminosa para violentar a esposa repetidamente. O uso da internet para recrutar os agressores também destaca o papel das plataformas digitais em facilitar crimes sexuais, evidenciando a necessidade de maior controle e responsabilização nesses ambientes.


A Justiça francesa está tratando o caso com rigor. Se condenado, Dominique poderá enfrentar penas severas por crimes como estupro em grupo, violação de privacidade, produção de material pornográfico não consensual e abuso psicológico.


Especialistas em direito e violência de gênero alertam para a gravidade de casos como este, onde o abuso ocorre de maneira sistemática e planejada. O uso da internet para organizar esses atos de violência sexual mostra como o meio digital pode ser instrumentalizado para práticas criminosas, ampliando o alcance dos abusadores.


A história de Gisèle Pelicot é um retrato sombrio das consequências da violência doméstica e sexual, e seu caso levanta um debate urgente sobre a necessidade de melhores mecanismos de proteção para vítimas de abusos, especialmente aqueles que ocorrem no âmbito familiar e envolvem manipulação psicológica.


Gisèle permitiu a divulgação de sua imagem, e insistiu em um julgamento público para que todos os acusados de estupro fossem expostos. Ela se tornou símbolo da luta contra a violência sexual na França.

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