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Desafios e oportunidades para a economia dos EUA no segundo mandato de Trump: Protecionismo, Inflação e Conflitos Globais

Karina Pinto


Imagem: Donald Trump - Reprodução

Donald Trump venceu Kamala Harris nas eleições desta terça-feira, 06, e retornará à Casa Branca em janeiro de 2025. Este segundo mandato traz  para Trump desafios e oportunidades para a economia dos Estados Unidos, especialmente considerando suas políticas já conhecidas e o cenário econômico global pós-pandemia, marcado pela guerra comercial com a China, a guerra na Ucrânia e o conflito entre Israel e o Hamas. É possível identificar alguns pontos críticos sobre como ele moldará seu próximo governo em termos econômicos, mantendo sua orientação protecionista e de desregulamentação.


Na política comercial, Trump manterá sua abordagem de tarifas elevadas, especialmente contra a China, e intensificará medidas protecionistas para reduzir a dependência de importações em setores estratégicos, como o de tecnologia e manufatura. Ele buscará renegociar acordos comerciais para torná-los mais favoráveis aos EUA, com uma postura de negociação mais dura, visando proteger empregos locais e impulsionar a produção doméstica.


Essa política tende a beneficiar indústrias americanas, mas também pode elevar os custos de bens para os consumidores e aumentar tensões globais, o que poderá impactar as cadeias de suprimento. A guerra comercial com a China, iniciada em 2018, já teve grandes repercussões nas cadeias globais de suprimentos e nas exportações agrícolas americanas, e um segundo mandato de Trump pode intensificar essas tensões, mantendo a política de tarifas e ampliando restrições sobre tecnologias avançadas.


A guerra na Ucrânia também influencia o cenário econômico, especialmente em relação aos mercados de energia e alimentos. A continuidade do conflito, somada às sanções impostas à Rússia, pressiona a Europa a buscar alternativas ao gás russo, o que poderá impactar os mercados globais de energia, refletindo-se nos preços de petróleo e gás e afetando a economia americana. Trump poderá enfrentar o desafio de equilibrar seu apoio à produção de energia doméstica com os impactos de um mercado global volátil devido ao conflito ucraniano. Além disso, o aumento dos preços globais de alimentos, provocado pela interrupção nas exportações de grãos da Ucrânia e da Rússia, representa um risco adicional para a inflação e o custo de vida.


No Oriente Médio, o conflito entre Israel e o Hamas traz mais incertezas à política externa de Trump. Em outubro de 2023, o Hamas lançou um ataque contra Israel, levando a uma resposta militar intensa e a uma crise humanitária na Faixa de Gaza. A situação agrava as tensões regionais e representa riscos para a segurança global e para os preços do petróleo, dada a instabilidade na região. Trump adotará uma postura firme de apoio a Israel, o que pode aprofundar as divisões no Oriente Médio, aumentando a volatilidade nos mercados de petróleo e afetando diretamente os preços globais de energia.


Na reforma fiscal, Trump ampliará ou renovará cortes de impostos para empresas e indivíduos, como os introduzidos no primeiro mandato com o Tax Cuts and Jobs Act, com o objetivo de estimular o investimento privado e o consumo. Embora essa medida promova um crescimento econômico a curto prazo, ela também aumentará a dívida pública, já bastante elevada. Manter a economia em crescimento enquanto lida com um déficit crescente será um dos maiores desafios, especialmente se os EUA enfrentarem uma recessão ou uma desaceleração econômica global.


A agenda de desregulamentação de Trump favorecerá setores como o energético e o financeiro, e ele continuará essa abordagem em seu segundo mandato. Isso poderá impulsionar setores como petróleo, gás e mineração, fortalecendo a produção doméstica e gerando empregos. No entanto, a continuidade dessa política de desregulamentação enfrentará críticas e desafios, especialmente em questões ambientais, com possíveis repercussões sobre mudanças climáticas e sustentabilidade. Além disso, o enfraquecimento das regulamentações financeiras poderá aumentar o risco de instabilidade nos mercados.


A inflação será um desafio central de seu segundo mandato. Com o aumento dos preços de alimentos e energia devido aos conflitos globais e às políticas comerciais protecionistas, a economia americana poderá enfrentar pressões inflacionárias elevadas. Trump buscará conter essa inflação promovendo a produção doméstica, especialmente no setor de energia, mas isso pode não ser suficiente para compensar os impactos dos custos globais elevados. 


A postura isolacionista de Trump, que visa reduzir a presença dos EUA em tratados e organizações multilaterais, continuará impactando o comércio e as alianças econômicas. Trump deve, à semelhança de seu primeiro mandato, reduzir o envolvimento dos EUA em acordos globais, optando por parcerias bilaterais que ofereçam termos mais vantajosos. Esse afastamento de alianças tradicionais fortalecerá a economia doméstica em alguns setores, mas também poderá deixar o país mais vulnerável a crises globais, afetando a competitividade americana no longo prazo.


Embora as políticas de Trump se concentrem em proteger a indústria americana e impulsionar o emprego doméstico, o saldo final pode ser uma ampliação da participação da China em acordos globais multilaterais.


Em conclusão, um segundo mandato de Trump traz continuidade a uma abordagem econômica marcada pelo protecionismo, desregulamentação e um foco na indústria doméstica. O potencial de crescimento econômico de curto prazo é real, mas também limitado pelo aumento do endividamento, pela elevação de custos para consumidores devido à inflação e pelas incertezas nas relações internacionais.


O maior desafio será equilibrar o crescimento com uma dívida pública crescente e um cenário global menos favorável, o que exigirá uma estratégia fiscal e de política externa cuidadosa. A longo prazo, a sustentabilidade do modelo econômico dependerá de como os EUA conseguirão se adaptar a uma economia cada vez mais interconectada e com demandas crescentes por inovação e sustentabilidade, em meio a conflitos que afetam diretamente o comércio, a inflação e a estabilidade internacional.


Adriano Di Castro - Economista e professor



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