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Câmara cancela debate sobre impactos de incêndios florestais na emissão de carbono

Karina Pinto

Imagem: Santarém encoberta por fumaça - Foto: Ascom HMS/UPA

Enquanto o Brasil enfrenta uma onda alarmante de incêndios florestais, que envolvem cidades inteiras em fumaça tóxica, a Câmara dos Deputados opta por cancelar o debate sobre os impactos ambientais dessas queimadas. A pauta, prevista para hoje (26) na Comissão Mista sobre Mudanças Climáticas (CMMC), permanece sem prazo para ser retomada.


Os dados reforçam a urgência do tema. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre os dias 24 e 26 de novembro foram registrados 909 focos de queimadas em todo o país, colocando o Brasil no topo do ranking de incêndios na América do Sul. O estado do Pará lidera o número de focos, com impressionantes 522 registros no período.


Quando ampliado o monitoramento, a situação se torna ainda mais alarmante. Pará, Amazonas, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul se revezam no ranking dos estados mais afetados pelos incêndios florestais. De janeiro até 15 de novembro, o Pará registrou 51.318 focos, seguido por Mato Grosso (50.044) e Amazonas (25.203).


Apesar da gravidade dos números, as respostas governamentais têm sido alvo de críticas. Cobrado pelo Ministério Público Federal, o Governo do Pará informou que decretou, em agosto, a proibição do uso de fogo para a limpeza de áreas rurais e que 190 bombeiros atuaram em 22 frentes apenas no último mês. Contudo, ações criminosas e práticas tradicionais seguem alimentando o avanço das queimadas.


Uma prática amplamente conhecida pelas autoridades envolve o uso do fogo para encobrir crimes ambientais. Após a extração de espécies de maior valor econômico, desmatadores ateiam fogo às áreas desmatadas, dificultando a identificação de crimes por imagens de satélite. O foco passa a ser o incêndio descontrolado, que consome vegetação nativa e ameaça biomas inteiros, camuflando um dos crimes mais praticados na Amazônia.


Além disso, os incêndios liberam carbono negro (fuligem), que contribui para o aquecimento global ao absorver radiação solar e acelerar o derretimento de superfícies como neve e gelo. Mesmo após a extinção das chamas, áreas queimadas continuam emitindo carbono devido à decomposição de matéria orgânica e raízes subterrâneas, agravando as mudanças climáticas.


Cidades como Santarém (PA), Manaus (AM), Rio Branco (AC) e Porto Velho (RO) vêm sofrendo com a fumaça intensa. No curto prazo, especialistas alertam para irritações respiratórias, alergias na pele e ardência nos olhos. A longo prazo, as preocupações incluem doenças pulmonares graves e problemas cardiovasculares severos, especialmente em populações vulneráveis como crianças e idosos.

Além dos impactos diretos, a fumaça das queimadas sobrecarrega os sistemas públicos de saúde, aumentando internações por doenças respiratórias e elevando os custos de atendimento em regiões já fragilizadas.


Incêndios florestais e emissões de carbono: uma preocupação global


Estudos recentes indicam que incêndios florestais podem ser responsáveis por até 10% das emissões globais de carbono em anos de atividade intensa. Regiões como a Amazônia, Sibéria, Austrália e oeste dos EUA estão entre as mais afetadas. Apesar de parte do carbono ser reabsorvida por florestas em regeneração, esse processo pode levar décadas, enquanto os gases permanecem na atmosfera, agravando o aquecimento global.


A ausência de debates efetivos e políticas públicas contundentes demonstra uma desconexão preocupante entre os impactos reais das queimadas e a prioridade dada ao tema nas esferas governamentais. Enquanto isso, o fogo continua consumindo florestas, empobrecendo o solo, poluindo o ar e contribuindo para a crise climática global.


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